quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Último Post

Passa hoje o último "Conversart" na 97FM. O convidado foi Paulo Moreiras, e encerra-se este ciclo com chave de outro.
Este fim imprevisto, que deixa uma "viagem pela música clássica" a meio caminho, ou alguns convidados que terão de ser "desconvidados" agora, é uma marca destes tempos conturbados. "Dias de Saturno", diria este nosso último convidado! Um fim é sempre um fim. Sem culpas, sem máculas (assim espero), sem lágrimas (até porque não era uma imensa legião de ouvintes que nos seguia)... um final não com um estrondo, mas com um soluço. Sem arte, portanto!

7 de Agosto - Mata Hari e Pininfarina

O dia de ontem, 7 de Agosto, regista como efemérides escolhidas pelo Conversart o nascimento de Mata Hari, a célebre holandesa que tornou mais excitante a espionagem. Será o equivalente para os homens do "007 representado pelo Sean Connery" para as mulheres. Só que a holandesa teve menos sorte na vida, e acabou derrubada "pela lei da bala". Uma pena, como se comprova pela fotografia com mais de 100 anos...
.

Regista também a morte de Andrea Pininfarina, o célebre engenheiro que chefiou por algum tempo a célebre casa "Pininfarina" responsável pelo desenho de inúmeros (e artísticos) carros.
Fica um pequeno exemplo, do mítico F40!
.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Happy birthday, Dustin Hoffman!

Comemora a 8 de Agosto (amanhã) 75 anos Dustin Hoffman, o consagrado actor que anda há quase 50 anos a fazer filmes e a ganhar prémios. Alguns dos mais conhecidos serão o "Papillon", "Os homens do presidente" ou o "Kramer Vs Kramer", mas mais recentemente podemos também ouvir a sua voz nos "Kung Fu Panda" (1 e 2), como mestre Shifu. 
.


O dia da Passarola

Foi a 7 de Agosto de 1709 que Bartolomeu de Gusmão demonstrou ao rei D. João V o "poder elevatório" do ar quente. O homem já andava por terra, pelo mar, e passava a poder deslocar-se, também, pelo ar. Uma efeméride que nos faz levitar. Por causa de Bartolomeu de Gusmão, andamos há mais de 300 anos a fazer também de pássaros.
.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A fotografia de Richard C. Miller

Richard C. Miller nasceu a 6 de Agosto de 1912, ou seja, faria hoje 100 anos, se não tivesse falecido em 2010. Foi um fotógrafo que ficou célebre com as celebridades. Uma reciprocidade curiosa, se pensarmos que estas pessoas também se imortalizaram por causa das fotografias de Miller.
Quem não sabe quem é esta jovem a quem o fotógrafo aniversariante "mostrou o passarinho"?
.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Entrar em Agosto na moda

Efeméride pioneira neste espaço, lembrando a moda e um dos seus mais célebres criadores.
Yves Saint Laurent, o conhecido estilista francês, nasceu a 1 de Agosto de 1936, há 76 anos. Faleceu em 2008, com 71 anos, mas o nome continua aí, nas lojas, nas passerelles, nas perfumarias, nas revistas...
.

Liszt, ou a Sonata Maior!

Faleceu no dia 31 de Julho de 1886 (há 126 anos, portanto), Franz Liszt, o genial compositor húngaro que é uma das figuras centrais do romantismo do século XIX, e ainda hoje um compositor obrigatório no repertório para piano.  Fica uma parte introdutória da sua incrível Sonata em Si menor (ou apenas "A Sonata", para muitos). Apenas 7 minutinhos que servem de amostra para 26 minutos (é quanto dura, em média, a execução da obra) de puro encanto musical.
.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Luis Buñuel

Outro artista peculiar, também metido com os surrealismos, em efeméride por estas dias, é Luis Buñuel, o realizador nascido espanhol e feito mexicano, que morreu a 29 de Julho de 1983.
Embora pesado (são 16 ou 17 minutos), fica aqui em versão integral o seu fenomenal "Un chien Andalou", feito em colaboração com Salvador Dali.
.

Marcel Duchamp

.
Nasceu a 28 de Julho de 1887, o pintor francês Marcel Duchamp.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

... ser dançada por Pina Bausch!

A grande senhora de Wuppertal, Pina Bausch, nasceu neste mesmo dia 27 de Julho, em 1940. Não tivesse falecido em 2009, e estaria agora a comemorar os seus 72 anos. Uma referência incontornável no mundo da dança. NO exemplo que vos deixo (e que ilustra bem o seu ecletismo), dança... um fado de Coimbra!
.

A música de Granados podia...

Nasceu a 27 de Julho de 1867, o compositor Enrique Granados.
.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Viva Kubrik!

Nasceu há 84 anos, a 26 de Julho de 1928. Um dos maiores de sempre, na sétima arte. Viva Kubrik!
.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Corto em Évora

Corto vai estar em Évora, a partir de Hoje. Mais pormenores, aqui!
De resto, Corto Maltese é uma figura grata ao Convers'art!
.

Mais um artista de 60 anos!

Hoje faz 60 anos (coincidência, ontem também celebrámos um aniversário de 60 velas!) o nosso grande Eduardo Souto Moura. Entre outras coisas, ganhou o Pritzker em 2011, naquela que é, porventura, a maior consagração de um arquitecto.
.
O estádio municipal de Braga

terça-feira, 24 de julho de 2012

Parabéns Gus Van Sant

.
Gus Van Sant comemora hoje 60 anos, e o Conversart deseja-lhe muitos parabéns. Fica o trailer do seu belíssimo "Elephant", numa altura em que novo massacre (e não muito distante de Columbine) volta a levantar questões antigas nos Estados Unidos.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Há 8 anos sem Paredes

Carlos Paredes morreu fazem hoje 8 anos.
Um artísta ímpar!
.

Edward Hopper

Nasceu a 22 de Julho de 1889, há 123, o mestre das figuras em solidão, Edward Hopper.
.

Emma Lazarus e a Estátua da Liberdade

.
Emma Lazarus nasceu a 22 de Julho de 1849. Faria ontem, se fosse viva, 163 anos. É seu o poema inscrito na base da estátua da liberdade, "The New Colossus". Fica aqui uma pequena explicação, e aqui o poema!

21 de Julho - Cat Stevens

.
Um clássico de Cat Stevens. Nasceu a 21 de Julho de 1948. Fez no sábado, portanto, 64 anos de idade.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Adios Astor Piazzolla


Passaram ontem, dia 4 de Julho de 2012, 20 anos sobre a morte de Astor Piazzolla.
A sua música e as suas interpretações continuam vivas e marcantes.
Inesquecíveis, mesmo...

sexta-feira, 15 de junho de 2012

15 de Junho! Que dia...

Tornemos às efemérides!
15 de Junho é um dia memorável. Em 1924 são publicados os marcantes "Veinte poemas de amor y una canción desesperada", de Pablo Neruda. Não deixem de voltar a passear por aqueles pastos luxuriantes de poesia.
3 anos mais tarde, em 1927, nasce Hugo Pratt, monstro da BD (e não só) e pai de Corto Maltese. Teve outros filhos, mas nenhum tão famoso como este. Incontornável! Eu, fã me confesso!

E o dia termina com Ella, falecida em 1996. Não há palavras para descrever a lindíssima voz de Ella Fitzgerald. Deixemos de escrita, ouçamos este milagre:
.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

al berto - 1997

E para terminar este dia de efemérides poéticas, foi também num dia 13 de Junho, mas agora de 1997 (passam hoje 15 anos) que morreu al berto, com um linfoma. Tinha então 49 anos. Visceral, homossexual e genial.
.
notas para o diário
.
deus tem que ser substituído rapidamente por poe-
mas, sílabas sibilantes, lâmpadas acesas, corpos palpáveis,
vivos e limpos.
.
a dor de todas as ruas vazias.
.
sinto-me capaz de caminhar na língua aguçada deste
silêncio. e na sua simplicidade, na sua clareza, no seu abis-
mo.
sinto-me capaz de acabar com esse vácuo, e de aca-
bar comigo mesmo.
.
a dor de todas as ruas vazias.
.
mas gosto da noite e do riso de cinzas. gosto do
deserto, e do acaso da vida. gosto dos enganos, da sorte e
dos encontros inesperados.
pernoito quase sempre no lado sagrado do meu cora-
ção, ou onde o medo tem a precaridade doutro corpo.
.
a dor de todas as ruas vazias.
.
pois bem, mário - o paraíso sabe-se que chega a lis-
boa na fragata do alfeite. basta pôr uma lua nervosa no
cimo do mastro, e mandar arrear o velame.
.
é isto que é preciso dizer: daqui ninguém sai sem
cadastro.
.
a dor de todas as ruas vazias.
.
sujo os olhos com sangue. chove torrencialmente. o
filme acabou. não nos conheceremos nunca.
.
a dor de todas as ruas vazias.
.
os poemas adormeceram no desassossego da idade.
fulguram na perturbação de um tempo cada dia mais
curto. e, por vezes, ouço-os no transe da noite. assolam-me
as imagens, rasgam-me as metáforas insidiosas, porcas. ..e
nada escrevo.
o regresso à escrita terminou. a vida toda fodida - e
a alma esburacada por uma agonia tamanho deste mar.
.
a dor de todas as ruas vazias.

Fernando Pessoa - 1888

Também Fernando Pessoa nasceu a um 13 de Junho, mas em 1888. Tinha Yeats 23 anos. Ou seja, Pessoa faria hoje 124 anos. Tal como Yeats, também Pessoa foi um místico. De ambos se diz terem sido maçons. Ambos foram modernistas. Ambos foram nacionalistas. Ambos representaram um renascimento na poesia e na cultura dos respectivos países. E ambos foram geniais!
De Pessoa (ortónimo) deixo-vos o célebre "O Quinto Império", d'A Mensagem, e de Álvaro de Campos, talvez o mais célebre heterónimo de Pessoa, o obrigatório "Tabacaria" - talvez o mais belo texto escrito na língua portuguesa. Não sou eu quem o afirmou pela primeira vez, mas concordo!
.
O Quinto Império
.
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
.
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raíz --
Ter por vida sepultura.
.
Eras sobre eras se somen
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
.
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa -- os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
.
TABACARIA
.
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?
.
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho genios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
.
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, para o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei que moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
.
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
.
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
.
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheco-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

William Butler Yeats - 1865

Yeats nasceu a 13 de Junho de 1865. Não fosse aquele pormenor da morte, e estaria hoje a comemorar 147 anos de vida. Acabou por festejar apenas 73. Os outros 74, festejámos nós.
Um poeta único e memorável, este irlandês. Um nacionalista, um místico, um politico, enfim, um homem da cultura que muito lutou por ela, não apenas como artista, mas também com os demais meios que tinha à sua disposição.
Deixo-vos dois exemplos da sua escrita iluminada, o primeiro no original, o segundo numa tradução para português feita por Péricles Eugénio da Silva Ramos:
.
THE STOLEN CHILD
.
Where dips the rocky highland
Of Sleuth Wood in the lake,
There lies a leafy island
Where flapping herons wake
The drowsy water rats;
There we've hid our faery vats,
Full of berrys
And of reddest stolen cherries.
Come away, O human child!
To the waters and the wild
With a faery, hand in hand,
For the world's more full of weeping than you can understand.

.
Where the wave of moonlight glosses
The dim gray sands with light,
Far off by furthest Rosses
We foot it all the night,
Weaving olden dances
Mingling hands and mingling glances
Till the moon has taken flight;
To and fro we leap
And chase the frothy bubbles,
While the world is full of troubles
And anxious in its sleep.
Come away, O human child!
To the waters and the wild
With a faery, hand in hand,
For the world's more full of weeping than you can understand.
.
Where the wandering water gushes
From the hills above Glen-Car,
In pools among the rushes
That scarce could bathe a star,
We seek for slumbering trout
And whispering in their ears
Give them unquiet dreams;
Leaning softly out
From ferns that drop their tears
Over the young streams.
Come away, O human child!
To the waters and the wild
With a faery, hand in hand,
For the world's more full of weeping than you can understand.
.
Away with us he's going,
The solemn-eyed:
He'll hear no more the lowing
Of the calves on the warm hillside
Or the kettle on the hob
Sing peace into his breast,
Or see the brown mice bob
Round and round the oatmeal chest.
For he comes, the human child,
To the waters and the wild
With a faery, hand in hand,
For the world's more full of weeping than he can understand.

.
LEDA E O CISNE
.
Súbito golpe: as grandes asas a bater
Sobre a virgem que oscila, a coxa acariciada
Por negros pés, a nuca, um bico a vem reter;
O peito inane sobre o peito, ei-la apresada.

Dedos incertos de terror, como empurrar
Das coxas bambas o emplumado resplendor?
Pode o corpo, sob esse impulso de brancor,
O coração estranho não sentir pulsar?

Um tremor nos quadris engendra incontinenti
A muralha destruída, o teto, a torre a arder
E Agamêmnon, o morto. 

.
Capturada assim,
E pelo bruto sangue do ar sujeita, enfim
Ela assumiu-lhe a ciência junto com o poder,
Antes que a abandonasse o bico indiferente?

.
Tradução: Péricles Eugênio da Silva Ramos

Adelino Leitão | Música de intervenção

Um programa a propósito, depois de mais um 25 de Abril, de mais um 1º de Maio e de um 10 de Junho (reforçado, este ano, segundo noticias governamentais), e numa altura em que nos pesa particularmente o adormecimento dos últimos  anos. E porquê esta temática? Ora, porque como nos confirmou o próprio Adelino Leitão, "A Revolução é uma arte"!
Couberam neste programa tantas revoltas e tantas lutas, que ele próprio (o programa) se viu envolto num autêntico "golpe de estado" para sair para a rua. Mas não o poderemos receber de uma outra forma que não seja com um cravo vermelho na mão.
Viva a Liberdade!
.

Brevemente o podcast do programa

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Passeio pela música clássica I | Nélson Grilo | Música antiga

Com o Nélson Grilo iniciamos, no "Convers'art", um passeio pela história da música clássica, ou a música de tradição europeia.
Neste primeiro programa desta série, navegou-se pela música antiga, desde o canto gregoriano monofónico até ao período Barroco de Bach e Haendel, passando pela música maneirista.
Um "motete" de vozes que iniciam uma viagem que nos irá acompanhar durante mais alguns programas. Com grande música, claro. Da que se estranha primeiro (como é apanágio do programa) e se entranha depois (como é intenção do programa).
Todos a bordo!
.

Podcast do programa AQUI

segunda-feira, 21 de maio de 2012

4.º Convers'art | Fádo com Alma | Fado

O Fado pode ser reinventado, numa relação de proximidade com o público.
Fádo com Alma, é um fado diferente. E não é só o acento, é também o sentimento que traduz, deixando de parte a nostalgia que é tradicionalmente atribuída ao Fado, e procurando um novo destino, que não aquele pintado de negro e fatalidade.
Este grupo estará em Leiria no dia 22 de Maio, para um concerto intitulado "Reviver Cantando", integrado nas comemorações do Dia da Cidade.
.
.
Podcast do programa AQUI

3.º Convers'art | Nuno Oliveira | Cinema

Assume-se como um coleccionador de filmes e de memórias cinematográficas.
Quem conhece o Nuno Oliveira, sabe que a sua grande paixão é o Cinema.
A sua proposta para que o Café Concerto tivesse Ciclos de Cinema foi aceite, e assim, todas as quintas, filmes e pipocas são atracção para este espaço de referência da cidade de Pombal.
Neste Convers'art, as músicas estão associadas a filmes, e os filmes estão ligados às músicas, numa relação intensa de sublimação.
.

Podcast do programa AQUI

terça-feira, 15 de maio de 2012

2.º Convers'art | Adérito Araújo | Mulher e Cultura Popular

Adérito Araújo falou sobre o papel da mulher, ontem e hoje, e a sua forte expressão na Cultura Popular.
É notória a crescente intervenção da mulher na sociedade, que antigamente se resignava às tarefas da família, da intimidade.
E esta selecção musical mostra que a mulher tem nome, e foi através das suas raízes e do saber popular, que as suas marcas permaneceram, mesmo as daquele que era considerado um pecado deveras consequente, o adultério feminino.
E aqui, um exemplo musical de inspiração popular, que hoje é uma referência.
.

Podcast do programa AQUI

1.º Convers'art | Humberto Pinto | Teatro

O primeiro Convers'art teve como convidado Humberto Pinto, e como mote uma conversa sobre Teatro.
Começou bem, o programa. Entre amigos, quase familia! Com música cheia de brilho, como seria de esperar do Humberto. Muita tralha em cima da mesa, CD's com cores estranhas... um autêntico "pica-pau" musical.
Aqui fica um vídeo de uma música que por lá tocou.
.

Podcast do programa AQUI

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Convers'art

O que é o "Convers'art"? Lacónica e objectivamente, diria que é um programa de rádio, que é emitido semanalmente às 4ª-feiras na Rádio Clube de Pombal (97 FM). Mas é pouco! É seco! Tentemos algo menos frio:
O "Convers'art" é um programa que gosta de convidados. Convidados com arte, claro! Será então "uma casa". Uma casa das artes? Não, é demasiado pretensioso. Falhei novamente. Tentemos algo menos espampanante:
"Convers'art" é um programa que gosta de convidados com arte, mas não é bem uma casa. É só uma cadeira! Uma cadeira vazia, e um microfone mudo. Mas uma cadeira que gosta de convidados com arte. E um microfone que gosta quando falam das artes.
Ah, quase me esquecia: e é música! Principalmente música! Daquela que não se encontra em outras frequências ou em outros horários. "Outras músicas", se me permitem a expressão.
Este é o Blogue oficial do programa, e os podcasts estão disponíveis em www.pombal97.com.
Fica aqui a (dispensável) foto do anfitrião.